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No ritmo do samba


Durante as décadas de 20 e 30, a música popular urbana brasileira ganhou sua própria caracterização. Até então o Rio de Janeiro era a capital da República, onde as batucadas africanas e os ritmos europeus se misturaram, construindo uma música original e engenhosa.

A princípio, as marchas e o samba eram delimitados aos morros e subúrbios cariocas, porém o estilo começou a tomar proporção e notoriedade devido a chegada do rádio no país e ao poder do carnaval urbano.

Os primeiros passos do samba possuíam particularidades como a presença da figura do "malandro". Até porque o samba urbano nasceu em meio a passagem da fase agrária para a fase industrial no Brasil, a lembrança traumática do regime escravocrata, a condição ainda precária da mão de obra livre e assalariada, e a exclusão do negro no mercado de trabalho (que ainda existe na realidade contemporânea). Tudo isso faz o samba ganhar forma de uma resistência individual sem poder de mudança social, a crítica e a provocação do malandro.diz respeito ao operário e não ao patrão.

A maleabilidade da vida na cidade é quem torna o malandro essa pessoa de favores, trocas e pequenas trapaças que em sua vida, muitas vezes, são necessárias para sobreviver. Esse atestado de ética malandra, em uma sociedade de classes em formação e desigualmente fundadas vincula-se ao ritmo do samba e ao convite à dança. Assim como é representado em "Macunaíma", de Mário de Andrade, o caráter brasileiro seria desobediente ao trabalho e mais ligado ao prazer, à malícia e à festa.

Com o Estrado Novo, no final dos anos 30, o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), instrumento de censura, induziu os sambistas a largar a malandragem e substituí-lo pelo elogio ao trabalho. É nesse período que surgem os sambas que exaltam a nacionalidade, como "Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Muitos sambas foram compostos de acordo com esta ética de instrumento de pedagogia política, por exemplo Wilson Batista que antes escrevia músicas exaltando a malandragem, compôs "O bonde de São Januário" ( "quem trabalha é que tem trabalha é que tem razão/ e eu não tenho medo de erra").

Contudo, a malandragem não se desvinculou totalmente do samba. Nos anos 70, Chico Buarque escreveu, de forma melancólica, em sua peça "Ópera do malandro" sobre o malandro romântico que vivia de pequenos truques, extinguiu-se e a malandragem atingiu outras esferas sociais, como a política e a criminalidade, tornando a malandragem algo mais perigoso e problemático. Grandes nomes ainda ressalvam a imagem de malandragem no samba, como fazia o cantor Bezerra da Silva e atualmente faz Zeca Pagodinho.

O comunicador possui o dever de deixar isso claro para o público, pois assim é possível quebrar paradigmas e valorizar a cultura brasileira, que muitas vezes é deixada de lado e acaba sendo substituída por algo estrangeiro ou que não seja tipicamente brasileiro. O comunicador pode demonstrar que a a cultura brasileira não é ruim, como é tido no senso comum, e sim desconhecida por muitos. A cultura brasileira precisa ser apresentada para as pessoas que mesmo sem conhecer insistem em presumir ideias ruins sobre ela, e o papel do jornalista é apresentar es

sa cultura e fazer essa imersão.


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